quinta-feira, 30 de junho de 2011

O Endereço da Minha Alma

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Virgílio Carderelli, 105.
Foi lá que aprendi a sentir
Infância que define, e lá vivi
Endereço que, mesmo não sendo mais meu,
gravou na minha alma a sua morada,
fez de mim destinatário e remetente
daquilo que foi, e insiste ser ,
que passou, mas continua sendo.

Virgílio Carderelli, 105.
Foi lá que aprendi a sentir
Endereço que, mesmo não sendo mais meu,
mandou pra vida a carta que sou,
e mesmo não estando mais lá,
continua sendo o endereço de onde envio e recebo
as cartas que contam minha história –
infância que abriu os caminhos da minha alma.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Minhas Crises nos Semáfaros

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Eu tenho crises nos cruzamentos das avenidas da minha cidade. Eu não suporto quando a sinaleira fecha e tenho que esperar uma eternidade até que a luz verde permita que o trânsito flua. Ah, se eu pudesse, certamente inventaria um trânsito tão perfeito que ninguém precisaria parar em sinal vermelho. Não é que eu seja tão impaciente que não consiga esperar alguns minutos, não é a espera propriamente dita que me deixa em crise, mas os acontecimentos do tempo da espera, sobretudo, os constrangimentos pelos quais passo.

Primeiro são aqueles meninos famintos que ficam jogando umas bolinhas pra cima, num arremedo de “show” de malabarismo. Tem uns que querem nos convencer de que são artistas de fato e, por isso, sobem uns nas costas dos outros, na tentativa de produzir uma pirâmide humana. Os mais fortinhos servem de apoio para os mais magrinhos que ficam jogando as bolinhas pro alto como se estivessem num circo a céu aberto. E depois do breve espetáculo improvisado, saem em busca de alguma moeda, estendendo a mão diante de cada carro preso na armadilha do semáforo. Também tem aquele pessoal das cadeiras de rodas, que vende balas, chicletes e chocolates, que nos intimam com os seus olhares sofridos, que apelam pra nossa misericórdia que nos faz comprar. E quando não compramos, nos sentimos mal, como se não tivéssemos coração. Além deles, tem a turma das entidades sociais que estendem uma faixa de um lado ao outro do cruzamento com dizeres que nos estimulam a algum tipo de contribuição. Então a equipe se põe a postos passando de veículo em veículo buscando arrecadar algum trocado, nos dando a opção de sermos generosos ou de fazermos uma declaração pública de insensibilidade. Claro que não posso me esquecer da garotada que tenta "limpar" o pára-brisa do automóvel e depois reivindica o “pagamento pelo serviço prestado”. Aqueles rodinhos e aquela água ensebada são o terror dos motoristas.

Mas, por favor, não pensem mal de mim, a minha crise não tem base no dinheirinho que damos ou deixamos de dar. Não tem nada a ver com as moedas que ficam no console do carro, se vão levá-las ou se vou conseguir depositá-las no cofrinho das crianças. Mas tem a ver com uma mazela social que continua crescendo, que está cada dia mais perto da gente, que muitas vezes sai das sinaleiras e migra para o crime, para o mundo das drogas, que faz com que os “malabaristas” se transformem em crianças violentas que matam chefes de família, donas de casa, jovens promissores. Que causam dor na família, que produzem traumas insuperáveis. Tem a ver com a banalização da violência que já não choca como antes, que alimenta os noticiários, mas não é mais novidade, que já faz parte do cotidiano, mas que, mesmo assim, parece tão longe da gente até que chega a hora que toca a campainha da nossa casa. Tem a ver com a minha participação nisso tudo. Será que eu tenho um papel maior a desempenhar como cidadão, ou devo reduzir o meu desempenho à só reclamar dos governantes? Será que a única coisa que nos resta é falar mal dos políticos? Será que a nossa cidadania se resume a isso ou temos mais o que fazer? Ou será que a gente tem que torcer por um sinal verde permanente que nos deixa passar sem nos incomodar com os que não podem desfrutar do nosso ar condicionado? Essas são algumas perguntas das minhas crises, que ficam maiores quando chego à conclusão de que “nunca antes na história desse país” o sinal vermelho se acendeu tão forte diante dos nossos olhos.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Fantasia

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Crio imagens
Invento personagens
Finjo sentir dor

Aparento estar triste
Dou a impressão que o mal existe
Como se sofresse de amor

No fundo dou risada, pois tudo era nada

Sou apenas escritor 

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A Arte de Dissimular

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Quando criança, ele viveu uma experiência que o marcou para sempre.

A campainha da escola soou e a criançada saiu correndo para o recreio. Ele, sabendo que a fila da cantina sempre era grande, apressou o passo, buscando ser um dos primeiros. Se assim conseguisse, daria tempo de comprar o lanche e ainda jogar uma bolinha com os colegas. Entretanto, quando chegou, pelo menos umas cinqüenta crianças já estavam enfileiradas a sua frente na fila do caixa. “Fazer o que?” Pensou. Com paciência permaneceu esperando a sua vez, e quase que automaticamente colocou as duas moedas grandes na boca e ficou brincando com elas. Esse era um péssimo hábito, inúmeras vezes censurado pelos pais. Mas não tinha jeito, ainda que ele mesmo se envergonhasse da mania, não conseguia se livrar dela. A fila demorou a andar, e ele, distraído, se divertia com as moedas na boca. Até que, quando havia apenas dois colegas a sua frente, acabou engolindo uma das moedas. Além da dor e do susto, com um frio na barriga, lembrou-se que acabara de desinteirar o dinheiro e que não teria o suficiente para comprar o lanche. Sem graça, saiu da fila depois de esperar aquele tempo todo. O colega que estava atrás dele estranhou e perguntou:

– “Tá chegando a sua vez, não vai comprar o lanche, não?”

– “Perdi a fome, não estou mais com vontade de comer” – falou de modo convincente, sem que ninguém percebesse o verdadeiro motivo que o levara a desistir da fila.

Foi assim que aprendeu a dissimular, arte na qual se aperfeiçoou. Todas as vezes que era pressionado se safava não falando a verdade. Habilidosamente, sempre escondeu as verdadeiras razões, passando outras impressões. Para se salvar, manipulava a realidade, a fim de que pensassem o que ele queria.

domingo, 26 de junho de 2011

Insinuante

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Se insinua,
como se estivesse nua.
Nada diz, mas como fala!

sábado, 25 de junho de 2011

Trama

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Ao seu lado deita e fica.
Parece que ama,
mas faz parte da trama
.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Relento

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Na porta tua,
minha alma nua
morre de frio.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Laplaciano

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O que fui,
me fez ser o que sou.
O que sou, fará o que serei.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Amor aos Cacos

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Profanou o original. Quis juntar os cacos, colar pedaço a pedaço – pacientemente –, como habilidoso restaurador. Foi então que percebeu sua falta de sensibilidade, quando, novamente, deixou cair, e os pedaços se multiplicaram. Na dor, descobriu que o original profanado não poderia ser recuperado. Largou os cacos no chão e o tempo fez virar pó.

O Céu é Maior

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O paraíso era certo
quando acordei no deserto,
sem nada entender.
Boca seca,
sede de vida intensa,
o instinto impera,  
a cabeça não pensa.
O mundo dá volta
na revolta da alma
que, cega, não vê.
E na falta da calma
segue cega sem ver
o céu do deserto,
imenso e tão perto.

terça-feira, 21 de junho de 2011

A Alegria do Ser

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Ainda que não dure,
deixe que o tempo cure.
Ainda que adoeça,
deixe que aconteça.

Sem o receio do que possa ser.
Creia que a solidão da noite
se desfaz no amanhecer,
abrandando a dor do açoite.

Golpe que abre feridas e faz sangrar.
Que marca a vida, mas não consegue roubar
a paixão de viver.

Da vida que se renova,
que se fortalece a cada prova,
que mesmo sem ter, se alegra no ser.